WELLS - Utopia e Perfeição

17/02/2023

WELLS - Utopia e Perfeição

    No trecho abaixo, o autor britânico H.G.Wells faz uma crítica a qualquer proposta de sociedade verdadeiramente utópica. Para ele, uma utopia pode servir como referência de ideias, mas jamais como um objetivo para ser alcançado. Na esteira do pensamento nietzschiano, Wells culpa Platão, que fundamentou a ideia de "perfeição", e Aristóteles, que tentou organizar objetivamente um mundo que é essencialmente caótico e em constante transformação. Assim, Wells acena positivamente para Heráclito, um filósofo pré socrático que apontava para uma realidade contingente, instável, e em permanente mudança:


" Toda a base intelectual da humanidade está estabelecida nas regras da lógica, os sistemas de contagem e medição, as categorias gerais e os esquemas de semelhança e diferença estão estabelecidos na mente humana para todo o sempre. Contudo, a ciência da lógica e toda a estrutura do pensamento filosófico, preservados desde os dias de Platão e Aristóteles, não possuem uma permanência essencial, como expressão final da mente humana, muito maior que o catecismo escocês.

Nada persiste, nada é preciso e certo (exceto a mente de um pedante), a perfeição é o mero repúdio daquela inexatidão marginal inevitável que é a qualidade mais íntima e misteriosa do ser. Não há existência, exceto uma transformação universal de individualidades, e que Platão ignorou quando resolveu encarar seu museu de ideais específicos. Heráclito, aquele gigante perdido e mal interpretado, pode talvez estar voltando ao seu próprio lugar.

A linguagem de uma utopia será sem dúvida única e indivisível.Toda a humanidade irá, na medida de suas diferenças individuais, traduzir em uma ressonância comum de pensamentos. No entanto, a língua que falarão ainda será uma língua viva, um sistema de imperfeições que cada homem individual poderá alterar de maneira infinitesimal." (WELLS, H. G., "Uma Utopia Moderna", p.29)


IMAGEM: Uma das obras mais conhecida de H.G. Wells, é "A Guerra dos Mundos" de 1898. Este livro recebeu diversas adaptações, como a curiosa radionovela de 1938, que gerou um pânico real nos EUA, quando várias pessoas acreditaram estar realmente sofrendo um ataque alienígena. Uma das últimas adaptações para o cinema foi em 2005, dirigido por Steven Spielberg e estrelado pelo ator Tom Cruise. 

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