WEBBER - Capitalismo Protestante

21/01/2023

    No trecho abaixo, o sociólogo alemão Max Webber (1864 - 1920) faz uma distinção entre o capitalismo tradicional e o capitalismo protestante. Ao contrário da religião católica, que durante seu auge na Idade Média associava o trabalho como uma atividade "inferior", próprio de camponeses e escravos, a igreja protestante passou a super valorizar a atividade do trabalho. Segundo Webber, os protestantes desenvolveram uma estrutura moral própria em relação ao trabalho e incorporaram aos valores cristãos. 

   Assim, no capitalismo tradicional, o acúmulo de dinheiro é visto como um meio para se obter necessidades e desejos materiais, enquanto que no capitalismo protestante, o trabalho passa a ser um fim em si mesmo. O próprio ato de trabalhar já seria visto como algo valoroso, uma virtude moral. Com o passar dos séculos, as duas formas de capitalismo foram se fundindo e incorpoando elementos um do outro, e em alguns momentos se tornando indissossiáveis:

" O capitalismo tradicional produz uma moral particular, e toda essa moral é colorida pelo utilitarismo. A honestidade é útil porque assegura o crédito; do mesmo modo a pontualidade, a laboriosidade, a frugalidade, e esta é a razão pela qual são virtudes. Uma dedução lógica de todo esse utilitarismo, seria que a aparência de honestidade bastaria quando fizesse o mesmo efeito. Ou seja, as virtudes capitalistas podem ser substituídas pela mera aparência, desde que o mesmo objetivo tenha sido atingido.

    Contudo, a "ética protestante" da obtenção de mais e mais dinheiro, combinado com o afastamento do gozo espontâneo da vida é, acima de tudo, pensado tão puramente como uma finalidade em si, parecendo algo superior à "felicidade" ou "utilidade" do indivíduo, algo transcedental e irracional. O homem é dominado pela produção de dinheiro, encarada como finalidade última de sua vida. A aquisição econômica não mais está subordinada ao homem como meio de satisfazer suas necessidades materiais. Esta inversão do que poderíamos chamar de relação natural, tão irracional de um ponto de vista ingênuo, é um princípio orientador do capitalismo, tão seguramente ela é estranha a todos os povos fora da influência capitalista. Mas ao mesmo tempo, ela expressa um tipo de pensamento inteiramente ligado a certas ideias religiosas. O próprio Benjamim Franklin, um deísta pouco entusiasta, cita a Bíblia em sua autobiografia: "Se vires um homem diligente em seu trabalho, ele estará acima dos reis."


IMAGEM: Outra diferença entre as duas formas de capitalismo apontada por Webber, é em relação à moral. Valores como honetidade, determinação e pontualidade, por exemplo, são bastante flexíveis no capitalismo tradicional, ao contrário do que ocorre no protestante. Ou seja, no capitalismo tradicional, não precisaríamos necessariamente ser honestos, mas apenas parecer honestos. Isso ocorre, porque o trabalho é encarado como um meio, e não como um objetivo final. Admiramos algumas pessoas por elas terem bastante dinheiro ou patrimônio material, e não por elas "darem duro" no trabalho. Muito pelo contrário, não raro, o trabalhador é uma das classes menos valorizadas da sociedade. 


Todos os direitos reservados 2018
Desenvolvido por Webnode
Crie seu site grátis! Este site foi criado com Webnode. Crie um grátis para você também! Comece agora