ROSSEAU - Família e Ordem Social
ROSSEAU - Família e Ordem Social
No início da obra "Do Contrato Social" (1762), Jean-Jacques Rosseau (1712-1778) investiga a origem das relações de poder na sociedade. Segundo ele, tudo se originaria na família, única instituição natural. Porém, o grande problema é tentarmos reproduzir esse modelo, que é baseado no afeto, para todos os outros aspectos da vida, como na política, por exemplo. Ou seja, enquanto um pai de família governa seus filhos para receber em troca o amor deles, o político governa seu povo para obter poder e privilégios:
" O homem nasceu livre e por toda parte encontra-se preso a ferros. Acredita ser senhor dos outros, mas não deixa de ser mais escravo que eles. Como se produziu essa transformação? Ignoro. O que a torna legítima? Creio poder solucionar essa questão. A ordem social é um direito que serve de base para todos os outros, entretanto, esse direito não provém da natureza; ele é fundado sobre convenções. Trata-se de descobrir quais são essas convenções.
A mais antiga de todas as instituições, e a única natural, é a da família. A família é portanto, o primeiro modelo das sociedades políticas: o chefe é a imagem do pai, o povo a imagem dos filhos; e todos, nascidos iguais e livres, não alienam sua liberdade a não ser por utilidade. Toda a diferença reside em que, na família, o amor do pai pelos filhos compensa os cuidados que ele lhes dá; e que no Estado, o prazer e os benefícios de comandar substitui esse amor que o chefe não tem pelos povos."
IMAGEM: Ao falarmos em "relações de poder" e "ordem social", estamos falando em uma sociedade dividida em classes, onde algumas possuem mais privilégios que outras. O Brasil é um país fundado e estruturado de forma bastante violenta e hierarquizada. Tivemos os colonizadores e os colonizados, os senhores e os escravos, e assim por diante. Por aqui, sempre houve grupos que "mandavam" e grupos que "obedeciam". Para alguns autores, como o sociológo Jessé Souza, essas características são estruturais de nossa cultura, e ainda influenciam nossa sociedade mesmo nos dias de hoje. Nesses últimos anos, por exemplo, houve no Brasil um crescimento de grupos que admiram e até idolatram figuras autoritárias, que passaram a ocupar cargos públicos e exercer cada vez mais poder e influência política na sociedade.
A imagem é uma obra do artista ítalo-brasilero Angelo Agostini (1843-1910). Agostini viveu durante o século 19, e foi um nome importante na luta contra a escravidão, tecendo muitas críticas contra a elite brasileira e o reinado de D. Pedro II.